33ª Diabetes Weekend
- Daniela Olmos
- 3 de nov. de 2016
- 5 min de leitura

Eu já tinha ouvido falar da Colônia de diabetes, visto que duas acadêmicas da AND já tinham participado e falado muito do tal do Diabetes Weekend, o que me deixou com muita vontade de participar. Em agosto, veio a notícia de que teríamos uma nova oportunidade de participar do DW, não pensei duas vezes e me inscrevi no mesmo dia. Desde então, aguardava ansiosa pelo evento!
A 33º Diabetes Weekend estava programada para acontecer nos dias 28, 29 e 30 de outubro. Eu contei os dias, primeiro pela curiosidade sobre o evento, depois para encontrar amigos que convivo diariamente pela internet e ainda, por ter a oportunidade de conhecer um pouco de Minas Gerais.
O evento foi realizado no Tauá Resort, em Caeté; nos encontramos na sexta-feira para sairmos do centro de BH até o hotel. Ali já começou a viagem, era tanta euforia com os encontros e a expectativa, que me senti indo para a Disney. Dividiram os participantes em três ônibus, eram 108 participantes (todos DM1) embarcando com um único objetivo, se divertir.
Estava super empolgada, e eu sou a pessoa mais desconfiada do mundo, então procuro não criar grandes expectativas, até para não me decepcionar depois – mas chegava a estar com frio na barriga.
Resolvi que ia me desligar do mundo e vivenciar o que a Colônia iria proporcionar.
Tive a sorte de ficar no mesmo ônibus que o grande idealizador do projeto, Dr. Levimar Araújo, que logo de cara já me encantou, pois ele não é só um médico endocrinologista, ele é DM1 e trata as pessoas de uma maneira muito humana. Logo de cara, adorei a equipe e os monitores, todos muito queridos e brincalhões, em especial a querida Mônica, que mais tarde descobri que seria minha monitora :)
Depois de uma viagem de mais de 1h e uma voltinha – nosso motorista se perdeu–, chegamos no Resort; já era tarde, por isso, só largamos as malas nos quartos e fomos até o refeitório preparado especialmente para o DW. Ali já senti uma sensação diferente, que só percebi o que era depois: segurança. Todos ali estavam medindo suas glicemias, contando seus carboidratos, aplicando sua insulina e aquilo passava até despercebido entre a gente. Não tinha ninguém para olhar, ninguém para questionar, ninguém para julgar.
Depois da janta, fomos levados até o auditório onde seria feita as divisões de grupos (para as dinâmicas dos outros dias) e a distribuição de camisetas. Mortos de cansados, voltamos aos quartos para dormir, já que acordaríamos muito cedo para fazer a ponta de dedo antes do café da manhã no sábado.
Sim, TODOS mediam sua glicemia antes das refeições para que eles anotassem numa ficha controle. Durante a Colônia inteira, tinha sempre um monitor disponível para medir nossa glicose e nos ajudar em caso de hipo.
No meu quarto, ficaram três usuárias de bomba – a Marina, a Tássia e a Mônica. Primeira coisa que pensei: não vou dormir com essas bombinhas apitando, mas estava tão cansada que capotei.
No sábado, acordamos bem cedo e fomos para o refeitório. Antes de abrir o buffet de café da manhã, uma das nutricionistas explicou sobre os alimentos que seriam servidos, o que era legal combinar com o que, falou que cada alimento teria uma plaquinha com a quantidade de carboidratos e outros nutrientes e nos deixou livres para fazermos nossas escolhas.
Depois do café veio uma dinâmica fantástica, que abria a 33ª edição do Diabetes Weekend com o tema Solidão e Gratidão, emocionando a todos que estavam presentes. Mais uma vez, eu senti aquela segurança, de não estar sozinha no mundo, de dividir o mesmo sentimento de outras pessoas – rolou umas lágrimas, confesso.
Em grupo, seguimos para uma trilha pelo mato dentro do próprio resort. Aí teve mais ponta de dedo, lanche e tempo livre. Aproveitamos o tempo livre para conversar, porque logo já tinha ponta de dedo de novo e o almoço.
Depois do almoço, partimos para um auditório e lá encontramos cinco "ilhas". Na noite anterior tínhamos sido divididos em 10 grupos, em cada ilha, juntaram-se dois grupos – meu grupo rosa se juntou ao grupo verde – e demos início a um circuito de palestras de 20min. em cada estação. Cada uma dessas estações tinha um tema: Medicina, Enfermagem, Fisioterapia e Educação Física, Psicologia e Nutrição.
Aí vem a parte que eu mais gostei, tirar dúvidas e obter novos conhecimentos.
Falamos sobre as novas tecnologias de bomba com o Dr. Levimar na ilha da medicina, ele nos explicou sobre hipoglicemia e tirou muito de nossos medos.
Na ilha da educação física, finalmente entendi porque fazer exercícios com a glicemia alta faz mal – basicamente, o açúcar alto no sangue, "raspa" nas paredes dos vasos sanguíneos e lesiona nossas artérias. Na estação da nutrição falamos sobre a importância de pesar os alimentos para a contagem, sobre os índices glicêmicos e como devemos escolher nossos alimentos. Quando chegamos na ilha da psicologia vieram as lágrimas, depoimentos e desabafos geraram abraços apertados e identificação. Meu grupo finalizou com a parte de enfermagem, na qual falamos sobre aplicação de insulina e que me deu argumentos para dizer porquê não se deve aplicar insulina fora dos locais de indicação.
Terminando o circuito de palestras, iniciava a dinâmica do teatro, que deveria ser apresentado na festa de Halloween da noite – 1 hora para criar roteiro e ensaiar. Conseguimos fazer um bom trabalho, digno de ganhar o primeiro lugar na festa e sermos premiados com um Libre no domingo :)
Terminamos o ensaio e eu tinha meia hora para colocar a fantasia e ir para a ponta de dedo pré-jantar. Entendem como foi corrido? Contribuiu muito para meu desligamento do mundo fora da Colônia.
Tivemos janta, tivemos festa, tivemos teatro. Tudo lindo, engraçado e normal.
Tão normal, que o fato do Bruno (um dos monitores) ter encostado no meu Libre para brincar comigo, não me assustou – se fosse em outro local, teria dado um tapa em quem encostou, pois é um reflexo do medo que tenho de alguém puxar meu sensor.
Não vou prolongar o texto, pois não adianta dar detalhes de tudo que aconteceu pois só quem esteve lá, vivenciou essa sensação.
Na primeira dinâmica, ouvi uma frase que ficou na minha cabeça durante todo final de semana: "Se esconder nos tira a vivência humana."
Por três anos eu me escondi. Não gostava de contar que tinha diabetes, não participava de nenhum grupo, mal curtia páginas no Facebook. Só entendi a importância de viver com quem passa pela mesma situação que eu, depois que coloquei isso em prática.
Conviver com pessoas que passam pelos mesmos medos, inseguranças e sustos que eu, me trouxe paz. Conheci pessoas, ouvi histórias e entendi as diferentes visões de mundo que existem. Por exemplo, eu era a única usuária de canetas do meu quarto, o que me deixou mais como uma ouvinte do que participante de grande parte das conversas. Mas nem por isso, não adorei o papo, agora já enxergo a bomba de uma forma muito mais amigável – contudo, ainda penso que o fio vai me incomodar hehe.
Meu final de semana foi isso. Experimentar, vivenciar e principalmente, ouvir.
No domingo, eu trouxe de volta na minha bagagem, histórias, amizades, conforto e leveza.
Se tem algo que preciso dizer é: conviva com diabéticos, você não faz ideia do bem que vai te fazer.
Gratidão a todos os organizadores do Diabetes Weekend, vocês não sabem o quão especial e significativo foi essa experiência para mim.
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